Calma, patriotas: o vermelho na seleção não é novidade, nem comunismo, é história

Camisa vermelha foi utilizada em confrontos de 1917 e 1937 devido a questões de uniformes similares entre as equipes adversárias

TOP MíDIA NEWS/MéRI OLIVEIRA


A camisa amarela é símbolo da Seleção Brasileira, é verdade. Mas engana-se quem pensa que somente o verde-amarelo foi sempre unanimidade no vestiário. O Brasil já vestiu vermelho sim - por duas vezes, em 1917 e em 1937 -, não foi por simpatia ideológica, e muito menos para provocar crises existenciais na internet.

Apesar disso, nos últimos dias, o novo uniforme da Seleção Brasileira - agora com detalhes em vermelho - desencadeou um verdadeiro surto coletivo nas redes sociais. 

Para alguns setores da direita, a notícia sobre a cor foi recebida como um ataque direto ao verde e  amarelo “de raiz”, uma espécie de cavalo de Troia ideológico, que esconderia uma suposta “agenda comunista” infiltrada no futebol nacional. 

Entre memes apocalípticos, chiliques online e teorias conspiratórias dignas de roteiro de streaming, até a Revolução Russa entrou na pauta. Mas, no meio da gritaria, ou batido um detalhe: o vermelho na camisa da Seleção não é nenhuma invenção moderna, e muito menos um manifesto político.

'Vermelhou'

Tudo começou em 1917, no Campeonato Sul-Americano, que depois viria a se tornar a atual Copa América. Na época, o uniforme oficial da seleção era branco. Só que, ao enfrentar Argentina e Chile, que também jogavam de branco, foi preciso improvisar para não ficar todo mundo igual. 

A solução encontrada foi utilizar camisas vermelhas, apenas para evitar confusão visual em campo, simples assim. Curiosamente, o episódio coincidiu com o ano da Revolução Russa, fato que, em retrospecto, alimenta a imaginação de alguns até hoje, mas que, na prática, teve zero relação com política. 

Então, calma: a escolha não tinha nada a ver com Lenin, foice ou martelo. Era só futebol.

Vinte anos depois, em 1937, o roteiro se repetiu. Em mais uma edição do torneio sul-americano, o Brasil enfrentaria o Peru, outro time que usava o branco nas camisas. Sem tempo (ou alternativa), os hermanos do Independiente, clube argentino - conhecido justamente pelo seu tradicional uniforme vermelho - emprestaram suas camisas vermelhas à Seleção. Resultado: partida garantida, sem crise de identidade ou protestos indignados.

Levando na esportiva

Esses episódios mostram que, no futebol, a cor da camisa muitas vezes é ditada por necessidades práticas, não por ideologias. E embora o vermelho continue sendo uma cor carregada de simbologias, quer sejam políticas, culturais ou ionais, no contexto da Seleção Brasileira, ele já vestiu a história da selação antes de virar motivo de trending topic. Afinal, o que está em campo é o futebol, não a guerra fria.

Além disso, em campo, a prioridade sempre foi jogar, e esses fatos demonstram a flexibilidade da Seleção Brasileira em situações adversas, a importância de adaptar-se às circunstâncias para garantir a realização dos jogos. 

Apesar de raros, esses momentos fazem parte da rica história do futebol brasileiro, mesmo que isso envolva vestir uma cor que, hoje em dia, faz alguns torcedores gritarem “ameaça comunista!” antes mesmo do apito inicial.

Mas relaxa: o vermelho na Seleção é raro, embora faça parte da nossa história. E história, como se sabe, não se apaga - nem com meme.